
Um mergulho na carreira e na personalidade de Alckmin - tida como um enigma até por quem diz conhecê-lo bem - pode ajudar a entender como ele se comportaria no Palácio do Planalto.
Alckmin é descrito como alguém metódico, com horror a desperdício. No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, mandou trocar as torneiras comuns pelas de pressão, que se fecham automaticamente. O equipamento foi regulado para soltar jatos de água muito rápidos. A conta de água caiu 70%. Antes do início oficial da campanha, Alckmin viajava em aviões de carreira e tomava táxis, pois o dinheiro do partido era escasso e ainda não era permitido aceitar doações.
Agora, conta com um jato Citation com nove lugares, alugado pelo partido. Na semana passada, ÉPOCA acompanhou o candidato no percurso de São Paulo a Salvador. A certa altura, Alckmin disse à filha Sofia que seus óculos estavam riscados e perguntou quanto custariam os novos: "Uns R$ 200?". Alguém respondeu que seria algo em torno de R$ 400. "É caro. Vou só trocar as lentes", disse ele.
Outra característica marcante de Alckmin, propagada por amigos, é sua proverbial sorte. Ele diz que entrou para a política por acaso, em 1972, porque um colega havia desistido de se candidatar a vereador pelo então MDB de Pindamonhangaba e indicou Alckmin como substituto. Nunca tinha feito política e foi eleito.
Quatro anos depois, a menos de 24 horas da convenção do MDB local, dirigentes do partido levaram a Alckmin a proposta de ser candidato a prefeito. Ele estava no último ano da faculdade de Medicina e, naquele dia, fazia plantão no hospital até a meia-noite.
Alckmin já tinha avisado que pretendia recusar o convite, pois seria impossível conciliar os estudos com o trabalho na Prefeitura. À meia-noite, terminado o plantão, ele foi para a reunião com o partido e saiu de lá candidato a prefeito. O que mudou? "O plantão estava tranqüilo e, no intervalo, fui até a banca e comprei uma revista Manchete. Li uma reportagem sobre Juscelino Kubitschek, que também era médico, e fiquei empolgado", contou depois ao amigo João Bosco, então prefeito de Pindamonhangaba. Comentário de Bosco: "Antes de ser presidente como Juscelino, você precisa ser prefeito".
A sorte o ajudou até na relação com a oposição. No início da carreira política, seu mais ferrenho adversário em Pindamonhangaba era o vereador Rogério Magalhães. Em meio a um ataque a Alckmin na Câmara Municipal, Rogério foi avisado que sua mulher havia sido levada para o hospital, em trabalho de parto. Abandonou o plenário e correu para o hospital. Chegando lá, encontrou a filha recém-nascida nos braços de Alckmin, que estava de plantão. Magalhães abandonou a oposição e tornou a vida de Alckmin bem mais fácil na Prefeitura.
Da carreira de anestesista, Alckmin guarda as anotações das mais de 3 mil cirurgias de que participou. Tem em casa um livro em que estão anotados os nomes de mais de 1.700 pacientes. Fez tudo isso ao mesmo tempo que fazia política. "Nunca trabalhei menos de 15 horas por dia", afirma. Alckmin diz levantar todo dia às 6h30 e nunca dormir antes da meia-noite. Afirma estar sem tempo para ler livros.
Na viagem a Salvador, acompanhada por ÉPOCA, aproveitou a ida para dar entrevista, ler os jornais, analisar úmeros da votação do primeiro turno e trocar idéias com o deputado eleito José Aníbal. Na volta, à noite, conversou mais e leu uma coletânea de reportagens preparada por sua assessoria. Guardou algumas para ler mais tarde. Cochilou apenas por 20 minutos.
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