Revista Época: Tanto suspense por nada.
Um bom começo
A denúncia do Ministério Público contra 40 envolvidos no mensalão deve ser louvada. Mas é preciso muito mais para combater a corrupção
GOLPE DUROO procurador-geral Antonio Fernando de Souza diz na acusação que uma organização criminosa atuava no governo.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, é um homem reservado. Não gosta de dar entrevistas, mede as palavras e foge da política.
Na terça-feira, esse personagem discreto produziu o mais duro documento já elaborado contra o governo Lula.
Em 134 páginas de uma denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal, o procurador afirma que o governo abrigava 'uma sofisticada organização criminosa, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta e as mais diversas formas de fraude'. O objetivo seria perpetuar a permanência do PT no poder. '
O núcleo central da quadrilha', diz a denúncia, era formado pelo ex-ministro José Dirceu e pelos ex-dirigentes petistas Delúbio Soares, Silvio Pereira e José Genoino.
O relatório do Ministério Público é um momento importante para o Brasil. No total, 40 pessoas foram denunciadas, entre políticos, altos funcionários do governo, empresários e banqueiros.
Nunca na história do país tanta gente influente esteve enrolada no mesmo processo judicial. O fato traz à lembrança a Operação Mãos Limpas, que investigou o envolvimento do Estado italiano com a corrupção e o crime organizado, na década de 90.
Na denúncia formal do esquema que ficou conhecido como mensalão, o procurador Antonio Fernando afirma que a 'organização se dividia em três núcleos'.
O primeiro núcleo, comandado pelo ex-ministro José Dirceu e por dirigentes do PT, foi denunciado por formação de quadrilha, corrupção ativa e desvio do dinheiro público.
O segundo, integrado por Marcos Valério e seus sócios, era responsável pelo recebimento de vantagens indevidas do governo.
O terceiro era formado pelos dirigentes do Banco Rural, que também teriam entrado na organização em busca de vantagens indevidas e para cuidar da lavagem de dinheiro no Brasil e no Exterior.
De acordo com o MP, o esquema de Marcos Valério começou na campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998. Oex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou a existência do mensalão quando se viu em apuros, também foi indiciado.
Um dia depois de ter sido apontado como 'chefe da quadrilha' pela denúncia, José Dirceu mostrou sua habitual desenvoltura. A bordo de um jatinho particular, foi até Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais. Reuniu-se com o ex-presidente Itamar Franco, que se preparava para receber a visita do pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho. Depois da reunião com Dirceu, Itamar surpreendeu Garotinho e se lançou candidato à Presidência. Mesmo cassado e indiciado, Dirceu precisou de menos de duas horas para produzir uma candidatura presidencial.
Como pode um político acusado formalmente, cujo mandato de deputado foi inclusive cassado, continuar operando na vida pública como se nada houvesse acontecido? Na Alemanha, o premiê Helmut Kohl caiu e foi varrido da cena política por causa de uma denúncia de financiamento ilegal de campanha. Nos Estados Unidos, o deputado Tom Delay perdeu o cargo de líder republicano apenas por ter mantido relações pessoais com um lobista condenado por suborno e práticas ilegais.
O Brasil, apesar da indignação e da estridência comuns na imprensa ou nas conversas de botequim, parece seguir de escândalo em escândalo, com pouco - ou quase nenhum - amadurecimento real. 'A doença não está no Congresso Nacional, nem no Estado, mas na sociedade brasileira', diz o cientista político Sérgio Abranches. 'Não existe crise política e do Estado sem uma crise na sociedade. É ela que não pode aceitar a compra do Congresso Nacional em troca do apoio ao governo. É ela que não pode deixar um João Paulo Cunha receber dinheiro do mensalão e ser absolvido pelo Congresso.'
Uma denúncia abrangente como a do MP pode ser um bom começo. Ela traz vantagens para o Brasil em vários níveis. Na avaliação das agências internacionais que medem o risco dos países, o combate à corrupção tem um peso expressivo. Pode animar ou desestimular grandes empresas internacionais que planejam aplicar dinheiro no país, mas temem o desgaste de eventual envolvimento em escândalos. Mostrar que a corrupção é combatida ajuda a imagem do país.
ACUSADOR Roberto Jefferson entregou os companheiros, mas também foi denunciado
Mas não é só isso. A ação do Ministério Público também é uma prova de que já houve alguma evolução nas instituições.
Até a Constituição de 1988, o MP tinha um papel quase decorativo. Depois, ganhou independência e poderes de investigação. A procuradoria deixou de ser um instrumento de Estado para estar a serviço da sociedade. A troca de informações entre o MP, a Polícia Federal e o Conselho de Atividades ä Financeiras (Coaf), encarregado de fiscalizar movimentações financeiras suspeitas, também tem permitido dezenas de operações contra o crime organizado e a corrupção. ANDREI MEIRELES - Revista Época
Nos últimos dias lemos em sites políticos que a Época deste final de semana derrubaria o Ministro da Justiça e atingiria Lula de frente. Nada disso...
Só nos restaram os ovos de Páscoa.
1 Comments:
Feliz Páscoa pra você também!
Postar um comentário
<< Home