Desperdício

No ano passado, a União gastou R$ 127,4 milhões com "assinaturas de periódicos e anuidades".

Esse valor é quase 15 vezes maior do que a quantia paga pelo Governo em 2005 no programa de incentivo ą leitura "Livro Aberto" (R$ 8,3 milhões), sem considerar restos a pagar pagos.

Ao que parece, os gastos com os periódicos em 2006 não serão muito menores. Só nos primeiros 6 meses deste ano, foram liquidados R$ 55,3 milhões com esses materiais.

Para se ter uma idéia, a Câmara dos Deputados recebe, apenas para suprir os gabinetes, mais de 2 mil exemplares de jornal diariamente. A cada mês, incluindo as revistas, chega-se a 63,6 mil publicações. Cada deputado federal tem direito ą assinatura de dois jornais de circulação nacional, um local, um regional e uma revista.

Tanta leitura é um dos motivos para os gastos da Câmara com publicações que, em 2005, chegaram a R$ 3,2 milhões.

Em 2006, no que depender da quantidade de jornais e revistas, os deputados federais continuarão bem informados. Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), o órgão empenhou em março deste ano quase R$ 498 mil para cobrir gastos com assinaturas de publicações de abril a julho de 2006. Com esse valor é possível comprar cerca de 2,2 mil jornais – a um preço médio de R$ 2,50 - por 90 dias. Para ver a nota de empenho, clique aqui.

Nos ministérios, a leitura de periódicos também é intensa. Na sede do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), terceiro colocado em 2005 dentre os órgãos que mais tiveram despesas com esse tipo de material (R$ 7,1 milhões), chegam cerca de 12 exemplares de jornais e revistas diariamente. No final, são quase 350 exemplares por mês.

Tanta leitura fez do lixo da Esplanada dos Ministérios um dos mais atrativos para os catadores de papel em Brasília. Segundo o presidente da Cooperativa de Reciclagem Trabalho e Produção (CORTRAP), Jamilson Andrade, são recolhidos, a cada mês, quase 28 toneladas de papel jornal e de revistas no lixo dos prédios da Esplanada.

A venda desse material corresponde a mais de 10% do lucro da cooperativa. "O valor é baixo porque os papéis de jornal e revista são mais baratos do que o papel branco, valendo em torno de R$ 0,03 e R$ 0,04", explica Andrade.

Os que mais gastam:

O Ministério da Educação (MEC) foi o órgão que mais gastou com assinatura de periódicos e anuidades no ano passado. Foram R$ 69,4 milhões em 2005. A maior parte desse dinheiro, R$ 46,1 milhões, foi destinada ą Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), responsável pela expansão e aprimoramento dos cursos de mestrado e doutorado no país. Em 2006, até o dia 6 de julho, os valores empenhados e liquidados pelo MEC com esse tipo de despesa atingiram R$ 33,8 milhões. Em 17 de abril desse ano, foi empenhado mais de R$ 1,1 milhão na aquisição de periódicos internacionais para o Capes. Clique aqui para ver a nota de empenho.

No ano passado, o segundo colocado na lista dos que mais gastaram foi o Ministério da Saúde (R$ 7,6 milhões). Até 6 de julho de 2006, a soma de valores empenhados e liquidados do ministério com esse tipo de material era de aproximadamente R$ 3,2 milhões. Parte desse dinheiro serviu para pagar a assinatura de publicações estrangeiras. Em 04 de abril, por exemplo, foram empenhados R$ 538,4 milhões em assinaturas de periódicos internacionais para a Biblioteca dos Centros de Estudos do Instituto Nacional do Câncer no Rio de Janeiro. Para ver a nota de empenho, clique aqui.

A maior parte desses dispêndios da União com periódicos é necessária. Existem, porém, excessos visíveis, sobretudo no que diz respeito ą assinatura de jornais. Vale ressaltar que nos ministérios circulam os clippings da Radiobras que resumem as matérias divulgadas pelos principais jornais do país. Contas Abertas